segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

E como hoje eu tou animadinho e cheio de material, vai um poema também:

Conto de Mercado

No mercado o homem
desvairado, louco,
bárbaro, sujo,
fermentado, rouco
esfumaçado, pouco amado,
diz aos presentes:

- Vamos à Lua!
Vamos à Marte!
Salvar a Terra!
Plantar mil árvores!
Brincar com pipa!
Desenhar à lápis!
Ver o movimento,
O trem de viagem!
Quantos ficaram,
Quantos vão tarde?
E você meu amigo:
Só deixa saudades.

Ele foi embora
Deixando seus sonhos.
débeis devaneios
levados pela aurora.



Comentário: Mais um poema marcando a passagem do tempo. Esse é um tema muito recorrente no meu "trabalho"; Devo ser (sou) obssessivo com o tempo.
Acho que esse só o Danielzinho (aê brother!) leu.
Nova proposta: Irei postar, semanalmente, um parágrafo de autoria própria.
Qualquer assunto. QUALQUER COISA. Foda-se. O blog é meu.
E ele era mais ou menos isso mesmo xD~

É a velha história:
Você vê a garota no metrô, bonita, arrumada. Lê atentamente um livro. Provavelmente tem a sua idade. Ela olha pra você.
Por um segundo, ambos imaginam uma vida inteira juntos. O primeiro encontro, o primeiro beijo, a primeira trepada, primeiro filho... Imaginam-se casando e envelhecendo juntos, cuidando dos netos. Uma vida quase perfeita.
Mas aí o metrô pára. Vocês dois entram. Aquele momento sagrado é desaparece, foge para o mundo dos amores perdidos. Uma pequena ferida se forma em seu coração. Nada que não possa ser recuperado, mas por aquele dia seu coração dói. E você provavelmente não sabe o porquê.
E você não vai vê-la nunca mais.

Comentário: idéia que me surgiu no... metrô. Talvez um desabafo sobre coisas que acontecem quase que diariamente comigo.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

0:
Um saxofone tocou na esquina.
A vizinhança não entendeu porque, mas havia um homem na rua tocando sax na esquina.
Ele usava um terno preto e uma blusa branca. Sua gravata, também preta, pendia na ponta do saxofone. Na cabeça, um chapéu preto com fita branca. Nos pés, sapatos de salão branco-e-preto.
Ele tocava sax como se o mundo fosse acabar. Tocava Blues, Jazz, Choro. Até Samba ele tocava. Uma, duas, três horas da madrugada. Até que um homem, irritado, saiu da sua casa para reclamar sobre o barulho.
- Ei! Você aí! Você pode parar de fazer esse barulho? Tem trabalhadores aqui querendo dormir, porra!
O saxofonista ignorou totalmente as reclamações do homem, e continuou tocando a sua música.
O homem foi ficando irritado. Conforme seu discurso se acalorava, passando pelos argumentos do “bebê dormindo”, “jovem estudante” e o clássico “vai pra puta que pariu”, o solo do sax ia também crescendo. Aumentando, aumentando, até que explodiu em uma série de harmônicas e palavrões muito bem elaborados.
Quando o homem desistiu e voltava para sua casa, o estranho parou de tocar. Deixou seu sax no chão, caminhou até o homem, e apertou a sua mão.
- Obrigado - ele disse. Deu as costas e foi embora, gingando. As sombras do final da rua foram aos poucos cobrindo sua silhueta. O sax ficou na rua, a gravata ainda pendendo na sua ponta.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

O poço.

Eu nunca gosto de colocar textos prozaicos aqui, mas enfim, a culpa é do Merlin.

Coisíssima nenhuma. Já se foi a oportunidade de tê-la. Agora só resta a solidão. Nesse escuro vazio em que se encontra. Nas trevas malditas que me encharcam, me afogam, mas me trazem à tona para sofrer. Para a luz que nunca terei. Para o frio que cerca o fundo do poço. O poço. As almas perdidas de sonhos vãos vêm para aqui e me atormentam. O sonho do rico, do casado, do gay, do sofredor e do flamenguista, que anseia pelo campeonato. Sonhos vãos. Sonho vão de tê-la, de amá-la e ampará-la, unir-se a ela, beijá-la e sofrer junto. Aqui, no poço. No vazio estratosférico que nos une, vagam pessoas estranhas. Pessoas inconhecidas, atores, fantoches. Celebridades incontidas, que definham e morrem, sem ninguém saber. No meu mundo imaginário, as distâncias não existem. No poço também não. Ao pequeno príncipe cabe saber que não cativei ninguém. Mas que a jibóia me devorou, juntamente com o elefante. O desenho não mudou. O mundo nunca muda. A esfera sólida continua pairando no nada, ignorando a física. Os homens vão morrer e ela continuará lá, pairando. Até os deuses resolverem fazer tudo de novo. E aí a Terra vem pro poço, junto comigo. Até o infinito.