quinta-feira, 7 de maio de 2009

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Um saxofone tocou na esquina.
A vizinhança não entendeu porque, mas havia um homem na rua tocando sax na esquina.
Ele usava um terno preto e uma blusa branca. Sua gravata, também preta, pendia na ponta do saxofone. Na cabeça, um chapéu preto com fita branca. Nos pés, sapatos de salão branco-e-preto.
Ele tocava sax como se o mundo fosse acabar. Tocava Blues, Jazz, Choro. Até Samba ele tocava. Uma, duas, três horas da madrugada. Até que um homem, irritado, saiu da sua casa para reclamar sobre o barulho.
- Ei! Você aí! Você pode parar de fazer esse barulho? Tem trabalhadores aqui querendo dormir, porra!
O saxofonista ignorou totalmente as reclamações do homem, e continuou tocando a sua música.
O homem foi ficando irritado. Conforme seu discurso se acalorava, passando pelos argumentos do “bebê dormindo”, “jovem estudante” e o clássico “vai pra puta que pariu”, o solo do sax ia também crescendo. Aumentando, aumentando, até que explodiu em uma série de harmônicas e palavrões muito bem elaborados.
Quando o homem desistiu e voltava para sua casa, o estranho parou de tocar. Deixou seu sax no chão, caminhou até o homem, e apertou a sua mão.
- Obrigado - ele disse. Deu as costas e foi embora, gingando. As sombras do final da rua foram aos poucos cobrindo sua silhueta. O sax ficou na rua, a gravata ainda pendendo na sua ponta.